sexta-feira, 19 de outubro de 2012

Resenha Crítica


19/10/12

Como elaborar uma resenha

1. Definições
Resenha-resumo:
É um texto que se limita a resumir o conteúdo de um livro, de um capítulo, de um filme, de
uma peça de teatro ou de um espetáculo, sem qualquer crítica ou julgamento de valor. Trata-se
de um texto informativo, pois o objetivo principal é informar o leitor.
Resenha-crítica:
É um texto que, além de resumir o objeto, faz uma avaliação sobre ele, uma crítica,
apontando os aspectos positivos e negativos. Trata-se, portanto, de um texto de informação e
de opinião, também denominado de recensão crítica.

2. Quem é o resenhista
A resenha, por ser em geral um resumo crítico, exige que o resenhista seja alguém com
conhecimentos na área, uma vez que avalia a obra, julgando-a criticamente.

3. Objetivo da resenha
O objetivo da resenha é divulgar objetos de consumo cultural - livros,filmes peças de teatro,
etc. Por isso a resenha é um texto de caráter efêmero, pois "envelhece" rapidamente, muito
mais que outros textos de natureza opinativa.

4. Veiculação da resenha
A resenha é, em geral, veiculada por jornais e revistas.

5. Extensão da resenha
A extensão do texto-resenha depende do espaço que o veículo reserva para esse tipo de
texto. Observe-se que, em geral, não se trata de um texto longo, "um resumão" como
normalmente feito nos cursos superiores ... Para melhor compreender este item, basta ler
resenhas veiculadas por boas revistas.

6. O que deve constar numa resenha
Devem constar:
O título
A referência bibliográfica da obra
Alguns dados bibliográficos do autor da obra resenhada
O resumo, ou síntese do conteúdo
A avaliação crítica

7. O título da resenha
O texto-resenha, como todo texto, tem título, e pode ter subtítulo, conforme os exemplos,
a seguir:19/10/12 Guia de Produção Textual - PUCRS
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Título da resenha: Astro e vilão
Subtítulo: Perfil com toda a loucura de Michael Jackson
Livro: Michael Jackson: uma Bibliografia não Autorizada (Christopher Andersen) - Veja, 4
de outubro, 1995
Título da resenha: Com os olhos abertos
Livro: Ensaio sobre a Cegueira (José Saramago) - Veja, 25 de outubro, 1995
Título da resenha: Estadista de mitra
Livro: João Paulo II - Bibliografia (Tad Szulc) - Veja, 13 de março, 1996

8. A referência bibliográfica do objeto resenhado
Constam da referência bibliográfica:
Nome do autor
Título da obra
Nome da editora
Data da publicação
Lugar da publicação
Número de páginas
Preço
Obs.: Às vezes não consta o lugar da publicação, o número de páginas e/ou o preço.
Os dados da referência bibliográfica podem constar destacados do texto, num "box" ou caixa.
Exemplo: Ensaio sobre a cegueira, o novo livro do escritor português José Saramago
(Companhia das Letras; 310 páginas; 20 reais), é um romance metafórico (...) (Veja, 25 de
outubro, 1995).

9. O resumo do objeto resenhado
O resumo que consta numa resenha apresenta os pontos essenciais do texto e seu plano
geral.
Pode-se resumir agrupando num ou vários blocos os fatos ou idéias do objeto resenhado.
Veja exemplo do resumo feito de "Língua e liberdade: uma nova concepção da língua
materna e seu ensino" (Celso Luft), na resenha intitulada "Um gramático contra a gramática",
escrita por Gilberto Scarton.
"Nos 6 pequenos capítulos que integram a obra, o gramático bate,
intencionalmente, sempre na mesma tecla - uma variação sobre o mesmo tema: a
maneira tradicional e errada de ensinar a língua materna, as noções falsas de língua
e gramática, a obsessão gramaticalista, a inutilidade do ensino da teoria gramatical, a
visão distorcida de que se ensinar a língua é se ensinar a escrever certo, o
esquecimento a que se relega a prática lingüística, a postura prescritiva, purista e
alienada - tão comum nas "aulas de português".
O velho pesquisador apaixonado pelos problemas de língua, teórico de espírito
lúcido e de larga formação lingüística e professor de longa experiência leva o leitor a
discernir com rigor gramática e comunicação: gramática natural e gramática artificial;
gramática tradicional e lingüística;o relativismo e o absolutismo gramatical; o saber
dos falantes e o saber dos gramáticos, dos lingüistas, dos professores; o ensino útil,
do ensino inútil; o essencial, do irrelevante".19/10/12 Guia de Produção Textual - PUCRS
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Pode-se também resumir de acordo com a ordem dos fatos, das partes e dos capítulos.
Veja o exemplo da resenha "Receitas para manter o coração em forma" (Zero Hora, 26 de
agosto, 1996), sobre o livro "Cozinha do Coração Saudável", produzido pela LDA Editora, com o
apoio da Beal.
Receitas para manter o coração em forma
"Na apresentação, textos curtos definem os diferentes tipos de gordura e suas
formas de atuação no organismo. Na introdução os médicos explicam numa
linguagem perfeitamente compreensível o que é preciso fazer (e evitar) para manter
o coração saudável.
As receitas de Cozinha do Coração Saudável vêm distribuídas em desjejum e
lanches, entradas, saladas e sopas; pratos principais; acompanhamentos; molhos e
sobremesas. Bolinhos de aveia e passas, empadinhas de queijo, torta de ricota, suflê
de queijo, salpicão de frango, sopa fria de cenoura e laranja, risoto com açafrão, bolo
de batata, alcatra ao molho frio, purê de mandioquinha, torta fria de frango, crepe de
laranja e pêras ao vinho tinto são algumas das iguarias".

10. Como se inicia uma resenha
Pode-se começar uma resenha citando-se imediatamente a obra a ser resenhada. Veja os
exemplos:
"Língua e liberdade: por uma nova concepção da língua materna e seu
ensino" (L&PM, 1995, 112 páginas), do gramático Celso Pedro Luft, traz um
conjunto de idéias que subvertem a ordem estabelecida no ensino da língua materna,
por combater, veementemente, o ensino da gramática em sala de aula.
Mais um exemplo:
"Michael Jackson: uma Bibliografia Não Autorizada (Record: tradução de
Alves Calado; 540 páginas, 29,90 reais), que chega às livrarias nesta semana, é o
melhor perfil de astro mais popular do mundo". (Veja, 4 de outubro, 1995).
Outra maneira bastante freqüente de iniciar uma resenha é escrever um ou dois parágrafos
relacionados com o conteúdo da obra.
Observe o exemplo da resenha sobre o livro "História dos Jovens" (Giovanni Levi e JeanClaude Schmitt), escrita por Hilário Franco Júnior (Folha de São Paulo, 12 de julho, 1996).
O que é ser jovem19/10/12

Hilário Franco Júnior
Há poucas semanas, gerou polêmica a decisão do Supremo Tribunal Federal que
inocentava um acusado de manter relações sexuais com uma menor de 12 anos. A
argumentação do magistrado, apoiada por parte da opinião pública, foi que "hoje em
dia não há menina de 12 anos, mas mulher de 12 anos".
Outra parcela da sociedade, por sua vez, considerou tal veredito como a aceitação
de "novidades imorais de nossa época". Alguns dias depois, as opiniões foram
novamente divididas diante da estatística publicada pela Organização Mundial do
Trabalho, segundo a qual 73 milhões de menores entre 10 e 14 anos de idade
trabalham em todo o mundo. Para alguns isso é uma violência, para outros um fato
normal em certos quadros sócio-econômico-culturais.
Essas e outras discussões muito atuais sobre a população jovem só podem
pretender orientar comportamentos e transformar a legislação se contextualizadas,
relativizadas. Enfim, se historicizadas. E para isso a "História dos Jovens" - organizada
por dois importantes historiadores, o modernista italiano Giovanno Levi, da
Universidade de Veneza, e o medievalista francês Jean-Claude Schmitt, da École des
Hautes Études em Sciences Sociales - traz elementos interessantes.
Observe igualmente o exemplo a seguir - resenha sobre o livro "Cozinha do Coração
Saudável", LDA Editores, 144 páginas (Zero Hora, 23 de agosto, 1996).
Receitas para manter o coração em forma
Entre os que se preocupam com o controle de peso e buscam uma alimentação
saudável são poucos os que ainda associam estes ideais a uma vida de privações e a
uma dieta insossa. Os adeptos da alimentação de baixos teores já sabem que
substituições de ingredientes tradicionais por similares light garantem o corte de
calorias, açúcar e gordura com a preservação (em muitos casos total) do sabor.
Comprar tudo pronto no supermercado ou em lojas especializadas é barbada. A coisa
complica na hora de ir para a cozinha e acertar o ponto de uma massa de
panqueca,crepe ou bolo sem usar ovo. Ou fazer uma polentinha crocante, bolinhos de
arroz e croquetes sem apelar para a frigideira cheia de óleo. O livro Cozinha do
Coração Saudável apresenta 110 saborosas soluções para esses problemas.
Produzido pela LDA Editora com apoio da Becel, Cozinha do Coração saudável traz
receitas compiladas por Solange Patrício e Marco Rossi, sob orientação e supervisão
dos cardiologistas Tânia Martinez, pesquisadora e professora da Escola Paulista de
Medicina, e José Ernesto dos Santos, presidente do departamento de Aterosclerose da
Sociedade Brasileira de Cardiologia e professor da faculdade de Medicina de Ribeirão
Preto. Os pratos foram testados por nutricionistas da Cozinha Experimental Van Den
Bergh Alimentos.
Há, evidentemente, numerosas outras maneiras de se iniciar um texto-resenha. A leitura
(inteligente) desse tipo de texto poderá aumentar o leque de opções para iniciar uma recensão
crítica de maneira criativa e cativante, que leva o leitor a interessar-se pela leitura.

11. A crítica
A resenha crítica não deve ser vista ou elaborada mediante um resumo a que se acrescenta,
ao final, uma avaliação ou crítica. A postura crítica deve estr presente desde a primeira linha,
resultando num texto em que o resumo e a voz crítica do resenhista se interpenetram.
O tom da crítica poderá ser moderado, respeitoso, agressivo, etc.
Deve ser lembrado que os resenhistas - como os críticos em geral - também se tornam19/10/12 Guia de Produção Textual - PUCRS
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objetos de críticas por parte dos "criticados" (diretores de cinema, escritores, etc.), que
revidam os ataques qualificando os "detratores da obra" de "ignorantes" (não compreenderam a
obra) e de "impulsionados pela má-fé".

12. Exemplo de resenha

Atwood se perde em panfleto feminista
Marilene Felinto
Da Equipe de Articulistas
Margaret Atwood, 56, é uma escritora canadense famosa por sua literatura de tom
feminista. No Brasil, é mais conhecida pelo romance "A mulher Comestível" (Ed.
Globo). Já publicou 25 livros entre poesia, prosa e não-ficção. "A Noiva Ladra" é seu
oitavo romance.
O livro começa com uma página inteira de agradecimentos, procedimento normal
em teses acadêmicas, mas não em romances. Lembra também aqueles discursos que
autores de cinema fazem depois de receber o Oscar. A escritora agradece desde aos
livros sobre guerra, que consultou para construir o "pano de fundo" de seu texto, até
a uma parente, Lenore Atwood, de quem tomou emprestada a (original?
significativa?) expressão "meleca cerebral".
Feitos os agradecimentos e dadas as instruções, começam as quase 500 páginas
que poderiam, sem qualquer problema, ser reduzidas a 150. Pouparia precioso tempo
ao leitor bocejante.
É a história de três amigas, Tony, Roz e Charis, cinqüentonas que vivem
infernizadas pela presença (em "flashback") de outra amiga, Zenia, a noiva ladra,
inescrupulosa "femme fatale" que vive roubando os homens das outras.
Vilã meio inverossímel - ao contrário das demais personagens, construídas com
certa solidez -, a antogonista Zenia não se sustenta, sua maldade não convence, sua
história não emociona. A narrativa desmorona, portanto, a partir desse defeito
central. Zenia funcionaria como superego das outras, imagem do que elas gostariam
de ser, mas não conseguiram, reflexo de seus questionamentos internos - eis a
leitura mais profunda que se pode fazer desse romance nada surpreendente e muito
óbvio no seu propósito.
Segundo a própria Atwood, o propósito era construir, com Zenia, uma
personagem mulher "fora-da-lei", porque "há poucas personagens mulheres fora-dalei". As intervenções do discurso feminista são claras, panfletárias, disfarçadas de
ironia e humor capengas. A personagem Tony, por exemplo, tem nome de homem (é
apelido para Antônia) e é professora de história, especialista em guerras e obcecada
por elas, assunto de homens: "Historiadores homens acham que ela está invadindo o
território deles, e deveria deixar as lanças, flechas, catapultas, fuzis, aviões e bombas
em paz".
Outras alusões feministas parecem colocadas ali para provocar riso, mas soam
apenas ingênuas: "Há só uma coisa que eu gostaria que você lembrasse. Sabe essa
química que afeta as mulheres quando estão com TPM? Bem, os homens têm essa
química o tempo todo". Ou então, a mensagem rabiscada na parede do banheiro:
"Herstory Not History", trocadilho que indicaria o machismo explícito na palavra
"História", porque em inglês a palavra pode ser desmembrada em duas outras, "his"
(dele) e story (estória). A sugestão contida no trocadilho é a de que se altere o "his"
para "her" (dela).
As histórias individuais de cada personagem são o costumeiro amontoado de fatos
cotidianos, almoços, jantares, trabalho, casamento e muita "reflexão feminina" sobre
a infância, o amor, etc. Tudo isso narrado da forma mais achatada possível, sem
maiores sobressaltos, a não ser talvez na descrição do interesse da personagem Tony
pelas guerras.
Mesmo aí, prevalecem as artificiais inserções de fundo histórico, sem pé nem
cabeça, no meio do texto ficcional, efeito da pesquisa que a escritora - em tom
cerimonioso na página de agradecimentos - se orgulha de ter realizado.19/10/12 Guia de Produção Textual - PUCRS
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